‘Justiça por Sofia’: em ato, multidão cerca pronto-atendimento em SC e secretário é afastado

Familiares e amigos da família de Sofia Emanueli Ribeiro Pereira, que morreu de dengue aos 4 anos, protestaram nesta terça-feira (2) em frente à unidade de pronto-atendimento de Barra Velha (SC), onde a criança foi atendida e onde uma investigação está em curso para apurar se houve negligência médica.

Antes do protesto, o grupo esteve na Câmara de Vereadores, onde pediram por justiça. “Foi a gota d’água para o nosso município. Queremos que seja a última morte por negligência em nossa cidade. Eu peço o afastamento dos responsáveis e, principalmente, do secretário da Saúde por ter dito que a culpa é da mãe”, disse Rubiani Campos, amiga da família, em tribuna.

Durante a manifestação, o prefeito Daniel Pontes da Cunha atendeu ao pedido da família e anunciou o afastamento do então secretário municipal de Saúde, Rogério Pinheiro.

Multidão pediu a saída do secretário de Saúde e justiça por Sofia – Vídeo: Divulgação/ND

O município informou que a decisão foi tomada em conjunto com o ex-secretário para que a sindicância, promovida pelo poder municipal, não sofra interferências.

“Buscando, assim, resguardar a pessoa do ex-secretário, enquanto se desenvolve o procedimento administrativo de apuração dos fatos”, destacou a nota.

Procurado pela reportagem, o ex-secretário enviou a nota da prefeitura e disse que não tem mais nada a declarar.

A prefeitura também afastou preventivamente o médico que atendeu Sofia. O objetivo é investigar a conduta médica no atendimento da criança que faleceu no domingo (31) no Hospital São José, em Jaraguá do Sul, com diagnóstico de dengue grave, após passagem pela unidade em Barra Velha.

Investigação

O MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) instaurou uma notícia de fato para apurar se houve negligência médica no atendimento à menina Sofia. A Polícia Civil também instaurou um inquérito para apuração dos fatos.

Segundo o Ministério Público, a menina foi atendida em três ocasiões e liberada para retornar para casa. Após a última consulta, ela faleceu devido a complicações associadas à doença.

O Promotor de Justiça Renato Maia de Faria, titular da 1ª Promotoria de Justiça, destacou que o MPSC busca a completa elucidação dos fatos e a devida responsabilização dos envolvidos.

“O município de Barra Velha tornou pública a informação de que está promovendo a instauração de uma sindicância para averiguar os eventos em questão. Contudo, isso não impede a notícia de fato, uma vez que outras medidas são imprescindíveis e urgentes”, afirmou.

Relembre o caso Sofia

Segundo a mãe de Sofia, Ana Maria, ela buscou atendimento três vezes no PA de Barra Velha. A primeira foi na última segunda-feira (25), quando Sofia apresentou febre de 39.7ºC. “Corri com ela pra lá e deram ficha laranja, tinha que ser atendida em 10 minutos, mas esperamos muito”, contou.

Em casa e já no dia seguinte, a família decidiu fazer o exame de dengue particular em uma farmácia, que deu positivo. Além disso, seguiram o tratamento com suplementos e vitaminas. A mãe, porém, percebeu que a garota continuava muito inchada e retornou à unidade.

Sofia faleceu no hospital neste domingo (31). Na certidão de óbito, há a confirmação de que uma das causas da morte foi dengue D, o tipo mais grave da doença, além de insuficiência renal aguda e choque hemorrágico.

Segundo a mãe, o sentimento é de injustiça. “Eu confiei no médico. Um exame ele podia ter salvo minha filha. Deveria ter pedido um exame para saber a gravidade da dengue. Era isso que precisava para interná-la”, desabafou.